quarta-feira, setembro 13, 2006

Latido

longe do umbigo
aquilo de cicatrizar
numa janela de vento
e então algum já desconhecido
cachorro de outra rua
quando imita o mesmo latido,
longe longe nem ouviu falar
onde as pragas botam ovos
e a lua machuca a noite
bala alojada no negrume. Mas sei
que lá nasci,
no mês de estiagem
deitado numa cama de canaviais
sem uma estrela que me guiasse
prematuro no grande ventre sulamericano
campo de ovários estuporados
e sempre & mais adiante
uma nuvem varre o cheiro vermelho da terra
esticando uma saudade
até o imensurável do cordão
soltando linha à pipa umbilical
fazendo tripacardioininterrupto
empurrando adiante
cachorro de outra rua
virador de latas e palavras
na solidão de terrenos baldios,
dobrar de horas e enganos
tentando morder o próprio rabo. E
nesta grande noite
que dormirei nos ladrilhos da distância
acordarei algum fogo adormecido. Em
alguma esquina distraída molestarei o
sono ruidoso de anjos
com asas kilométricas.


Poble Nou / Serie de fotografías en descomposición

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